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O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

O Pai Natal não é uma pessoa….

Logisticamente falando, o Pai Natal tem uma vida complicada: em inícios de dezembro entrega todas as árvores de Natal nas casas das crianças e depois, quando termina, começa logo a entregar os presentes, para que no dia 24 à noite não haja nenhum menino sem um presente para abrir.

No meio disto tudo, o Pai Natal às vezes engana-se e, para não ter que fazer duas vezes a mesma viagem, acaba por deixar presentes dos meninos que nós conhecemos em nossa casa para depois nós entregarmos.

 

Até aqui ainda não tínhamos tido qualquer questão em relação à vida complicada do Pai Natal, mas este ano, com chaminé em casa as coisas não estão tão pacíficas.

 

Sábado de manhã o Pai colocou a caixa da árvore e enfeites junto à porta da cozinha para que ele visse e nós contássemos a versão do costume.

- Salvador, o que é isso aí? – Cansámo-nos de esperar que ele desse por ela…

- Quê? Esta caixa e este saco com caixas?

- Sim…

- É a árvore de Natal.

- Olha, que bom, o Pai Natal já veio cá deixar a nossa árvore – dizemos em coro – Deve ter vindo pela chaminé e nem se enganou na casa nem nada.

- Não foi o Pai Natal… - responde ele.

- Não???- pergunto.

- Então quem foi? – pergunta o Pai.

- Não sei, mas não foi o Pai Natal.

- Ah sim? E Porquê?

- Porque o Pai Natal não é uma pessoa… É só um velhote.

- Como?

- Sim, as pessoas não andam dentro das chaminés. E a nossa até tem uma osga, por isso se ele tivesse vindo por ali, a osga tinha fugido e andava à solta aqui por casa…

 

OK, e quem argumenta contra factos????

Halloween

Apesar de todos os meus medos, a verdade é que os miúdos vieram bater à porta e ele estava histericamente feliz!!!!

 

Foram duas horas de distribuir doces numa casa decorada a preceito, recebidos por um menino vestido a preceito, com doces e tudo... Comme il faut!

 

Senão, avaliem por vocês mesmos:

Noite de Halloween

 Eis o médico alucinado, numa entrada cheia de pormenores, que ele mesmo decorou.

 

Cesto de Halloween

 Eis o nosso cesto dos doces, por fora...

 

Doces de Halloween

 ... E por dentro. 

Gostam dos nossos pacotinhos em forma de mão? Foram o maior sucesso!!!!

 

E a noite dele também, e isso é o que importa.

Sim, para o ano há mais!!!!

 

Pérolas deste fim de semana

- Já convidaste a Tia para vir ao aniversário do Avô? - pergunta-lhe a Avó.

- Eu????!!!!? - diz ele muito admirado.

- Sim, tu.

- Mas se não sou eu que faço anos....

 

....

 

- Dá lá uns mergulhos, para a Avó ver!! - insiste o Pai.

- Dá tu! Tu é que és filho dela!!!

 

....

 

- Mãe, porque é que vieste deitar-te no teu quarto?

- Porque me está a doer a cabeça e tu estás só aos gritos e aos guinchos lá em baixo. 

- Então eu fico aqui a fazer-te companhia e guincho baixinho só para ti....

 

....

 

- A Avó vai embora?

- Não, Filho. Os Avós vão ficar esta semana connosco.

- Assim... tipo férias na nossa casa?

- Sim.

- Que bom!! Assim também fico em casa...

- Não senhor. Vais para a escola.

- Mas se os Avós estão na nossa casa de férias porque é que eu não posso fazer o mesmo!?!?!!?

 

....

 

- Então, Salvador, quem é a tua namorada? - pergunta a Avó.

- É a Mamã. - responde prontamente.

- A Mamã? A Mamã já é uma velha.... - diz a Avó.

- E então???? 

 

 

Onde, não interessa: ele quer é piscina!!!

- Amanhã vou à escola, está bem Mãe?

- Porquê, não estás bem com os Avós, de férias aqui em casa, a acordares quando te apetece?

- Amanhã é quarta-feira, Mãe, dia de piscina.

- Sim, mas ainda não começou a piscina, já te disse.

- Mas Mãe, aqui está a chover e não dá para ir à piscina e assim vou com os meus amigos da escola, que a nossa piscina é dentro de uma casa e não chove lá!!!

 

A lógica está certa, confesso, não fosse o tal pormenor de eu não saber se as aulas de natação já começaram.

 

- Pode ser que amanhã não chova e vais à piscina daqui.

- E se eu quiser ir à escola?

- Vais, mas não te vou mandar as coisas da natação.

- Então fico em casa.

- Muito bem...

- Nunca se sabe, não é Mãe?, pode não chover!

 

Claro, penso cá para mim, estás cá com uma sorte....

 

O meu Filho é sempre assim: só faz as escolhas que lhe satisfaçam os desejos. E neste caso, pouco interessa se está há imenso tempo sem ir à escola: o que importa mesmo é estar de molho!!! Desde que não seja na banheira, claro!!!

 

Como é maravilhosa a vida aos 4 anos...

20h30. Sentados no sofá, eu a jogar tablet, ele a olhar para o jogo (sim, continua de castigo...).

Mesmo assim, estranho.

 

- Filho, tens soninho?

- Não, Mãe, eu sou forte.

- Tem sim - responde a Avó (sim, sim, as Avós têm sempre resposta para tudo, até mesmo para o que já foi respondido....)

- 'Tenho nada! - responde ele aos gritos.

- Menos!!! - aviso eu.

 

Dois segundos depois a Avó dispara:

- Tem sono, pois! Então: deitou-se muito tarde e levantou tão cedo, não dormiu à tarde e fartou-se de correr e de brincar com a Rita no parque infantil...

 

(A Rita é a nova amiga do Salvador; para não variar muito, tal como o João, ela também não mora no condomínio. Quem mora é a avó, que fica com ela enquanto a escola não começa.)

 

Nem dois minutos depois, encosta-se a mim, todo torto.

 

- Estás cansado, Filho?

- Não - responde depressa demais.

 

Ouve-se um grande bocejo.

Olho para ele e pisco-lhe o olho.

 

- Mãe - sussurra - eu menti a ti: eu tenho muito soninho.

- Eu sei. Mas não queres ir para a cama, certo?

- Isso!!

- Não faz mal.

 

21h. Tenho o braço todo babado.

Ele dorme a sono solto. Como é que eu sei?: Está a mexer-se, como se nos sonhos andasse ainda a brincar.

 

Levo-o para a cama e deito-o. Nem quando o levo ao wc se manifesta.

 

Ainda bem que o meu Filho é forte e sem sono. 

 

Mergulho para… o castigo

Estava a descansar ao final da tarde, quando ouvi um barulho esquisito.

Pensei: «lá está ele a revirar e a despejar a caixa dos Legos. É bom que depois arrume.» Contudo, a gritaria que se seguiu prenunciava algo de diferente. Mas de tão diferente que nem me passaria pela cabeça…

 

Entram ele e o Pai no quarto, num silêncio sepulcral.

- Mostra lá à Mãe o que é que fizeste.

 

Ele entrega-me o tablet, mas como o quarto estava escuro, não percebi.

- O que foi? – Pergunto

 

O Pai acende a luz e na minha cabeça também se fez luz… antes tivesse ficado “às escuras”.

 

- Salvador, o que é que aconteceu ao teu tablet?!?!? – Pergunto ante a visão de um monitor com 3 arcos como se fossem o arco iris…. Mas de rachas.

- Eu atirei ele.

- Atiraste-o de onde?

- Dali, das madeiras lá para abaixo.

 

«Das madeiras lá para baixo» é do mezzanine para a sala… Um "mergulho" de uns bons 3 a 3,5 metros de altura.

 

- Então e agora, estás feliz? Vais ficar sem tablet, que o Pai e a Mãe não têm dinheiro para te comprar um tablet novo…

- E agora? – Interrompe o Pai – Agora vai ficar no quarto de castigo, a pensar no que fez e não há cá mais tablets ou computadores para jogar para este menino!

 

E ele ficou.

A atirar as coisas todas pelo ar, a chorar de raiva. Não descansei mais.

 

Levantei-me, obriguei-o a apanhar e arrumar tudo e lá ficou sentado na cama a pensar na vidinha… sem tablet.

 

- Porque é que atiraste o tablet? – Pergunto calmamente.

Responde-me com um encolher de ombros.

- Sabes que não vais voltar a ter tablet tão depressa? Esse é que é o teu verdadeiro castigo, não é estares aqui no quarto. O teu castigo é não haver mais tablets para o Salvador, que se comportou como um bebé, a atirar as coisas da varanda, quando na verdade já é um rapazinho com quase 5 anos. – explico-lhe antes de o deixar no quarto sozinho.

 

Fica a olhar para mim, com aquele olhar de carneiro mal morto que todos os miúdos parecem treinados para fazer quando estão de castigo.

 

Tenho pena, porque ele gostava muito de jogar e fazia jogos bastante elaborados quando comparados à idade dele. E já sabia mexer no meu computador e coordenar muito bem o rato...

Mas penas têm as galinhas e, por muito Mãe-galinha que eu seja, nada justifica este comportamento. 

 

 

Ir de férias.... com a casa às costas

Bem sei que o lugar para onde nos mudámos é tipo um oásis no meio do deserto, tantas são as infraestruturas à disposição do Salvador para ele brincar.

E como nunca vamos de férias para lado nenhum, o Salvador está com algumas dificuldades em perceber o conceito, principalmente porque ficou em casa com a Avó para poder desfrutar dos últimos raios de sol e calor.

 

- Mãe, quando vamos para a nossa casa velha?

- Nós agora moramos aqui, Salvador.

- E não vamos para a outra casa?

- Não.

- Vamos, pois - diz o Pai em tom de provocação - Acabou-se a piscina e tudo!!!

- Ah... - responde ele - Mas eu julgava as nossas coisas 'távam todas aqui e a outra casa estava vazia.

- E está, Filho - respondo já a rebolar os olhos para o Pai.

- 'Tamos de férias aqui? - insiste ele.

- Não, Salvador: nós moramos aqui. Tu estás de férias porque está cá a Avó, senão também já estavas na escola, a trabalhar como o Pai e a Mãe.

- Então não vamos para a nossa casa velha?

- Não há casa velha e casa nova, Filho. Há a «nossa casa», que agora é aqui.

 

Bem sei que a única vez que fomos os 3 de férias, levámos praticamente a casa às costas, porque ele tinha um ano e pouco.

Mas daí a que, depois de uma mudança deste calibre, ele continue a pensar que estamos apenas de férias...

O País das crianças felizes

- Hoje não mergulhas?

- Não, Mãe. Não me apetece. Porquê? Querias ver-me?

- Queria.

- Vês-me amanhã; amanhã vai apetecer-me.

- Mas amanhã a Mãe vai trabalhar e, como sabes, não chego a tempo de te ver na piscina.

- Quando não estás comigo, tens saudades minhas, Mãe?

- Tenho. Sempre.

- Isso é porque queres. Podias estar mais tempo comigo.

 

Facada no coração...

 

- A Mãe já explicou que temos que trabalhar. Para termos tostão para poderes morar aqui, por exemplo, neste sítio que tem piscina para brincares.

- Sim, mas Mãe... - diz ele, meio hesitante - há uma maneira de estares sem saudades de mim.

- Ah, sim? Como?

- Pedes ao teu chefe para vires embora.

- Mas a Mãe tem coisas para fazer, não pode vir assim embora.

- Pedes a ele assim: dizes que tens muitas saudades minhas e que tens vir para casa para brincar comigo.

 

E assim as empresas portuguesas se transformariam em empresas-fantasma.... e as crianças deste País seriam tremendamente felizes.

Pobres, mas felizes.

Novos amigos…. Mas pouco

Ontem ao jantar:

 

- E então Filho, como foi o teu dia: brincaste muito na piscina?

- Sim.

- E deste muitos mergulhos?

- Só dois.

- E brincaste sozinho?

- Não, brincou com uns meninos que lá estavam – responde a Avó.

- Ah sim?! Olha que bom! E como é que se chamam os meninos?

- Num sei.

- E moram aqui no condomínio?

- Num sei.

- Não sabes, como? Se amanhã os vires outra vez, como é que os chamas?

- (resposta: um encolher de ombros)

- Salvador, quando começamos a brincar com outros meninos, que não conhecemos, a primeira coisa que se faz é perguntar como é que se chamam, para os podermos tratar pelo nome – explico-lhe.

- Percebeste, Filho? – insiste o Pai – da próxima vez perguntas como é que se chamam, para saberes e poderes chamar os meninos pelo nome.

- (resposta: encolher de ombros e um silêncio meio prolongado)

- Ele está assim – começa a Avó a explicar – porque na verdade, como ele não sai da piscina pequena, não brincou muito com eles. Até a menina, que era mais pequena que ele, estava sempre a atirar-se para a piscina maior. – conclui.

- Ainda assim, Filho – replico – não faz mal andar na piscina pequena. Até é preferível, já que tu e a Avó não sabem nadar. Mas é bom saber os nomes dos meninos com quem se brinca.

- Para quê?

 

Enfim, não vale a pena insistir quando pela cara dele se vê que está telhado que nem um urso com a inconfidência da Avó….