Porque quero muitos presentes!!!!
Comprou-se-lhe uma meia que acompanhe as pretensões!
O que não é garantido é que o Pai Natal corresponda, claro....
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Comprou-se-lhe uma meia que acompanhe as pretensões!
O que não é garantido é que o Pai Natal corresponda, claro....
Logisticamente falando, o Pai Natal tem uma vida complicada: em inícios de dezembro entrega todas as árvores de Natal nas casas das crianças e depois, quando termina, começa logo a entregar os presentes, para que no dia 24 à noite não haja nenhum menino sem um presente para abrir.
No meio disto tudo, o Pai Natal às vezes engana-se e, para não ter que fazer duas vezes a mesma viagem, acaba por deixar presentes dos meninos que nós conhecemos em nossa casa para depois nós entregarmos.
Até aqui ainda não tínhamos tido qualquer questão em relação à vida complicada do Pai Natal, mas este ano, com chaminé em casa as coisas não estão tão pacíficas.
Sábado de manhã o Pai colocou a caixa da árvore e enfeites junto à porta da cozinha para que ele visse e nós contássemos a versão do costume.
- Salvador, o que é isso aí? – Cansámo-nos de esperar que ele desse por ela…
- Quê? Esta caixa e este saco com caixas?
- Sim…
- É a árvore de Natal.
- Olha, que bom, o Pai Natal já veio cá deixar a nossa árvore – dizemos em coro – Deve ter vindo pela chaminé e nem se enganou na casa nem nada.
- Não foi o Pai Natal… - responde ele.
- Não???- pergunto.
- Então quem foi? – pergunta o Pai.
- Não sei, mas não foi o Pai Natal.
- Ah sim? E Porquê?
- Porque o Pai Natal não é uma pessoa… É só um velhote.
- Como?
- Sim, as pessoas não andam dentro das chaminés. E a nossa até tem uma osga, por isso se ele tivesse vindo por ali, a osga tinha fugido e andava à solta aqui por casa…
OK, e quem argumenta contra factos????
Apesar de todos os meus medos, a verdade é que os miúdos vieram bater à porta e ele estava histericamente feliz!!!!
Foram duas horas de distribuir doces numa casa decorada a preceito, recebidos por um menino vestido a preceito, com doces e tudo... Comme il faut!
Senão, avaliem por vocês mesmos:
Eis o médico alucinado, numa entrada cheia de pormenores, que ele mesmo decorou.
Eis o nosso cesto dos doces, por fora...
... E por dentro.
Gostam dos nossos pacotinhos em forma de mão? Foram o maior sucesso!!!!
E a noite dele também, e isso é o que importa.
Sim, para o ano há mais!!!!
- Já convidaste a Tia para vir ao aniversário do Avô? - pergunta-lhe a Avó.
- Eu????!!!!? - diz ele muito admirado.
- Sim, tu.
- Mas se não sou eu que faço anos....
....
- Dá lá uns mergulhos, para a Avó ver!! - insiste o Pai.
- Dá tu! Tu é que és filho dela!!!
....
- Mãe, porque é que vieste deitar-te no teu quarto?
- Porque me está a doer a cabeça e tu estás só aos gritos e aos guinchos lá em baixo.
- Então eu fico aqui a fazer-te companhia e guincho baixinho só para ti....
....
- A Avó vai embora?
- Não, Filho. Os Avós vão ficar esta semana connosco.
- Assim... tipo férias na nossa casa?
- Sim.
- Que bom!! Assim também fico em casa...
- Não senhor. Vais para a escola.
- Mas se os Avós estão na nossa casa de férias porque é que eu não posso fazer o mesmo!?!?!!?
....
- Então, Salvador, quem é a tua namorada? - pergunta a Avó.
- É a Mamã. - responde prontamente.
- A Mamã? A Mamã já é uma velha.... - diz a Avó.
- E então????
- Amanhã vou à escola, está bem Mãe?
- Porquê, não estás bem com os Avós, de férias aqui em casa, a acordares quando te apetece?
- Amanhã é quarta-feira, Mãe, dia de piscina.
- Sim, mas ainda não começou a piscina, já te disse.
- Mas Mãe, aqui está a chover e não dá para ir à piscina e assim vou com os meus amigos da escola, que a nossa piscina é dentro de uma casa e não chove lá!!!
A lógica está certa, confesso, não fosse o tal pormenor de eu não saber se as aulas de natação já começaram.
- Pode ser que amanhã não chova e vais à piscina daqui.
- E se eu quiser ir à escola?
- Vais, mas não te vou mandar as coisas da natação.
- Então fico em casa.
- Muito bem...
- Nunca se sabe, não é Mãe?, pode não chover!
Claro, penso cá para mim, estás cá com uma sorte....
O meu Filho é sempre assim: só faz as escolhas que lhe satisfaçam os desejos. E neste caso, pouco interessa se está há imenso tempo sem ir à escola: o que importa mesmo é estar de molho!!! Desde que não seja na banheira, claro!!!
20h30. Sentados no sofá, eu a jogar tablet, ele a olhar para o jogo (sim, continua de castigo...).
Mesmo assim, estranho.
- Filho, tens soninho?
- Não, Mãe, eu sou forte.
- Tem sim - responde a Avó (sim, sim, as Avós têm sempre resposta para tudo, até mesmo para o que já foi respondido....)
- 'Tenho nada! - responde ele aos gritos.
- Menos!!! - aviso eu.
Dois segundos depois a Avó dispara:
- Tem sono, pois! Então: deitou-se muito tarde e levantou tão cedo, não dormiu à tarde e fartou-se de correr e de brincar com a Rita no parque infantil...
(A Rita é a nova amiga do Salvador; para não variar muito, tal como o João, ela também não mora no condomínio. Quem mora é a avó, que fica com ela enquanto a escola não começa.)
Nem dois minutos depois, encosta-se a mim, todo torto.
- Estás cansado, Filho?
- Não - responde depressa demais.
Ouve-se um grande bocejo.
Olho para ele e pisco-lhe o olho.
- Mãe - sussurra - eu menti a ti: eu tenho muito soninho.
- Eu sei. Mas não queres ir para a cama, certo?
- Isso!!
- Não faz mal.
21h. Tenho o braço todo babado.
Ele dorme a sono solto. Como é que eu sei?: Está a mexer-se, como se nos sonhos andasse ainda a brincar.
Levo-o para a cama e deito-o. Nem quando o levo ao wc se manifesta.
Ainda bem que o meu Filho é forte e sem sono.
Estava a descansar ao final da tarde, quando ouvi um barulho esquisito.
Pensei: «lá está ele a revirar e a despejar a caixa dos Legos. É bom que depois arrume.» Contudo, a gritaria que se seguiu prenunciava algo de diferente. Mas de tão diferente que nem me passaria pela cabeça…
Entram ele e o Pai no quarto, num silêncio sepulcral.
- Mostra lá à Mãe o que é que fizeste.
Ele entrega-me o tablet, mas como o quarto estava escuro, não percebi.
- O que foi? – Pergunto
O Pai acende a luz e na minha cabeça também se fez luz… antes tivesse ficado “às escuras”.
- Salvador, o que é que aconteceu ao teu tablet?!?!? – Pergunto ante a visão de um monitor com 3 arcos como se fossem o arco iris…. Mas de rachas.
- Eu atirei ele.
- Atiraste-o de onde?
- Dali, das madeiras lá para abaixo.
«Das madeiras lá para baixo» é do mezzanine para a sala… Um "mergulho" de uns bons 3 a 3,5 metros de altura.
- Então e agora, estás feliz? Vais ficar sem tablet, que o Pai e a Mãe não têm dinheiro para te comprar um tablet novo…
- E agora? – Interrompe o Pai – Agora vai ficar no quarto de castigo, a pensar no que fez e não há cá mais tablets ou computadores para jogar para este menino!
E ele ficou.
A atirar as coisas todas pelo ar, a chorar de raiva. Não descansei mais.
Levantei-me, obriguei-o a apanhar e arrumar tudo e lá ficou sentado na cama a pensar na vidinha… sem tablet.
- Porque é que atiraste o tablet? – Pergunto calmamente.
Responde-me com um encolher de ombros.
- Sabes que não vais voltar a ter tablet tão depressa? Esse é que é o teu verdadeiro castigo, não é estares aqui no quarto. O teu castigo é não haver mais tablets para o Salvador, que se comportou como um bebé, a atirar as coisas da varanda, quando na verdade já é um rapazinho com quase 5 anos. – explico-lhe antes de o deixar no quarto sozinho.
Fica a olhar para mim, com aquele olhar de carneiro mal morto que todos os miúdos parecem treinados para fazer quando estão de castigo.
Tenho pena, porque ele gostava muito de jogar e fazia jogos bastante elaborados quando comparados à idade dele. E já sabia mexer no meu computador e coordenar muito bem o rato...
Mas penas têm as galinhas e, por muito Mãe-galinha que eu seja, nada justifica este comportamento.
Bem sei que o lugar para onde nos mudámos é tipo um oásis no meio do deserto, tantas são as infraestruturas à disposição do Salvador para ele brincar.
E como nunca vamos de férias para lado nenhum, o Salvador está com algumas dificuldades em perceber o conceito, principalmente porque ficou em casa com a Avó para poder desfrutar dos últimos raios de sol e calor.
- Mãe, quando vamos para a nossa casa velha?
- Nós agora moramos aqui, Salvador.
- E não vamos para a outra casa?
- Não.
- Vamos, pois - diz o Pai em tom de provocação - Acabou-se a piscina e tudo!!!
- Ah... - responde ele - Mas eu julgava as nossas coisas 'távam todas aqui e a outra casa estava vazia.
- E está, Filho - respondo já a rebolar os olhos para o Pai.
- 'Tamos de férias aqui? - insiste ele.
- Não, Salvador: nós moramos aqui. Tu estás de férias porque está cá a Avó, senão também já estavas na escola, a trabalhar como o Pai e a Mãe.
- Então não vamos para a nossa casa velha?
- Não há casa velha e casa nova, Filho. Há a «nossa casa», que agora é aqui.
Bem sei que a única vez que fomos os 3 de férias, levámos praticamente a casa às costas, porque ele tinha um ano e pouco.
Mas daí a que, depois de uma mudança deste calibre, ele continue a pensar que estamos apenas de férias...
- Hoje não mergulhas?
- Não, Mãe. Não me apetece. Porquê? Querias ver-me?
- Queria.
- Vês-me amanhã; amanhã vai apetecer-me.
- Mas amanhã a Mãe vai trabalhar e, como sabes, não chego a tempo de te ver na piscina.
- Quando não estás comigo, tens saudades minhas, Mãe?
- Tenho. Sempre.
- Isso é porque queres. Podias estar mais tempo comigo.
Facada no coração...
- A Mãe já explicou que temos que trabalhar. Para termos tostão para poderes morar aqui, por exemplo, neste sítio que tem piscina para brincares.
- Sim, mas Mãe... - diz ele, meio hesitante - há uma maneira de estares sem saudades de mim.
- Ah, sim? Como?
- Pedes ao teu chefe para vires embora.
- Mas a Mãe tem coisas para fazer, não pode vir assim embora.
- Pedes a ele assim: dizes que tens muitas saudades minhas e que tens vir para casa para brincar comigo.
E assim as empresas portuguesas se transformariam em empresas-fantasma.... e as crianças deste País seriam tremendamente felizes.
Pobres, mas felizes.
Ontem ao jantar:
- E então Filho, como foi o teu dia: brincaste muito na piscina?
- Sim.
- E deste muitos mergulhos?
- Só dois.
- E brincaste sozinho?
- Não, brincou com uns meninos que lá estavam – responde a Avó.
- Ah sim?! Olha que bom! E como é que se chamam os meninos?
- Num sei.
- E moram aqui no condomínio?
- Num sei.
- Não sabes, como? Se amanhã os vires outra vez, como é que os chamas?
- (resposta: um encolher de ombros)
- Salvador, quando começamos a brincar com outros meninos, que não conhecemos, a primeira coisa que se faz é perguntar como é que se chamam, para os podermos tratar pelo nome – explico-lhe.
- Percebeste, Filho? – insiste o Pai – da próxima vez perguntas como é que se chamam, para saberes e poderes chamar os meninos pelo nome.
- (resposta: encolher de ombros e um silêncio meio prolongado)
- Ele está assim – começa a Avó a explicar – porque na verdade, como ele não sai da piscina pequena, não brincou muito com eles. Até a menina, que era mais pequena que ele, estava sempre a atirar-se para a piscina maior. – conclui.
- Ainda assim, Filho – replico – não faz mal andar na piscina pequena. Até é preferível, já que tu e a Avó não sabem nadar. Mas é bom saber os nomes dos meninos com quem se brinca.
- Para quê?
Enfim, não vale a pena insistir quando pela cara dele se vê que está telhado que nem um urso com a inconfidência da Avó….