... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..
... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..
- Salvador, podes, por favor, levar estas meias para baixo para eu depois colocar na tua mochila?
- Sim, Mãe. Tu sabes eu faço tudo o que tu quiseres!!!! Tudo o que tu quiseres, Mãezinha querida!!
- Tudo o que eu quiser ou tudo o que eu pedir?
- Não é igual?!?!?
- Pensa lá bem e responde-me tu...
- Huummm... Se calhar eu faz tudo o que tu pedires e quiseres, MENOS as coisas eu não quiser, e depois tu dizes que eu me estou a portar mal.... Assim é que é as coisas!
....................
- Salvador, desculpa, mas vais ter que começar a ajudar o Pai e a Mãe com as limpezas cá em casa...
- MAS EU SOU TÃO PEQUENINO!!!!!! Os pequeninos não limpam a casa!!!!
- Tens toda a razão, mas podem ajudar de outra maneira, que vai dar no mesmo.
- Ah sim, como?
- Não sujando!
- Ah pois, mas eu também não posso ajudar dessa maneira: eu sou pequenino e os pequeninos só sabem mesmo é sujar....
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- Vai acabar de jantar, se faz favor!!!!
- MAS EU NÃO TENHO FOME!!!!
- Não tens fome ou não te apetece comer a carne??
- Não tenho fome de não me apetecer comer a carne. Não preciso de jantar!!!
- Muito bem, mas aviso já que não há bolachinhas com leite para ninguém antes de deitar, entendidos?
- Sim, Mãe, claro. Pode ser só uma tostinha com queijo e fiambre.....
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- Salvador, com quem é que estás a falar ao telefone?
- Com a Tia.
- Vai acabar de comer; a Mãe já atendeu este telefone. Desliga esse e vai sentar-te à mesa, por favor.
- Mas eu estou a falar com a Tia!!!!
- Desliga o telefone e vai acabar de almoçar!, que tu nem gostas de falar ao telefone!!!
Desliga o telefone e quando vai en passant para a cozinha ouço-o dizer: «não gosto de falar ao telefone mas ainda gosto menos de comer.....»
.......................
- Vem cá para eu te cortar as unhas!!
- Né peciso!!! - grita ele.
- Quem decide se é preciso ou não sou eu, e eu estou a mandar-te vir aqui para que te possa ver esses pés e cortar as unhas!! Atenção que não estou a pedir!!!
- Sim e eu não estou ir, que quem manda nestas pernas sou eu!!!
- E se essas pernas não se mexerem rápido até à sala, esse rabo no qual eu também não mando vai levar uma palmada!!
- Pode ser!! Vem aqui dar-me qu'eu estou a ver os desenhos!!!
(Quem aterrar agora neste blog deve pensar que acabei de inaugurar a série «Como Um Animal»...)
Imaginem o "idílico" cenário de estarem no duche, hiper atrasados como sempre, e de repente, vindo do nada (do nada, não: do andar de baixo...), começarem a ouvir uns guinchos.
Isso mesmo: Guinchos.
É uma nova moda do Salvador: para quê falar e explicar o que se passa se é tão mais fácil guinchar ou grunhir que nem um leitão?!?!?
As birras / declaração de contestação e/ou contrariedades da vida são manifestadas assim:
Acabaram-se as bolachas? Para quê pedir mais??: Grunhe-se bem alto que alguém há-de aparecer para dar mais....
Estou a chorar e ninguém sabe porquê? Para quê explicar?: misturam-se uns guinchos com uns grunhidos, deixo de respirar até ficar com os lábios roxos e a pele rosada e eles vão-se passar...
Não só não nos passamos, como ficamos tranquilamente ao lado dele a tentar acalmá-lo.
Umas vezes resulta (demora o seu tempo, é certo, mas resulta) e outras o amigo passa de leitão a varrasco e aumenta o volume da coisa.
Tranquilidade, é isso que é preciso nestes momentos.
Um abafador nas orelhas ou uma palmada no rabo dele também não seriam piores, mas há que praticar a paciência...
1 - Ontem o Pai arranjou-lhe uvas porque ele está sempre a pedir; Ele demorou 1 hora a comer uma uva e meia e acabou por dizer que não gostava de uvas;
2 - Como já expliquei anteriormente, o Salvador é mais "ver para crer", tendo uma certa dificuldade em entender conceitos de coisas que não se vêem, tais como a alma.
Posto isto, vamos ao episódio de hoje, fresquinho de há meia hora:
- Mãe, os Anjos têm pés? - pergunta ele enquanto segura na mão o Anjo que os tios e primos lhe deram quando ele nasceu.
- Esse tem.
- E os outros? - insiste.
- Também devem ter.
- Há mais Anjos?
- A Mãe acredita que sim - respondo já a não gostar muito do rumo da conversa.
- Pois... Mas eu não acredito.
- Como assim?
- Não acredito e pronto. Eu nem gosto de Anjos... - diz ele com cara de mau.
- Como assim? - pergunto eu à beira do histerismo e sim, a tornar-me repetitiva.
- Não gosto e pronto.
- E tu por acaso sabes o que é um Anjo para não gostares? - disparo.
- Os Anjos são coisas de bebés; eu já não sou bebé; eu odeio Anjos.
- NINGUÉM ODEIA ANJOS!!!! E são coisas de bebés porquê?
- Porque são... E eu odeio Anjos, ponto!!!
Nisto, sai do quarto e começa a descer as escadas para a sala.
- Não vais levar brinquedos para baixo?
- Eu odeio brinquedos! - responde com desdém.
Para mim já chegava.
- Pode-se saber porque é que esta noite odeias tudo?
- Porque sim, porque eu decidi.
- Ah, desculpa, não sabia que esta era a Noite de Odiar... - ironizo
Entretanto ele já estava na sala, e para dar um corte radical na conversa dirige-se ao Pai:
- E então, as minha uvas??? - questiona em tom de exigência.
- É preciso ter lata!!, depois do que fizeste ontem! - responde-lhe o Pai.
- Com um bocado de sorte, ainda acaba a dizer que também odeia uvas, não é senhor Salvador?
- Salvador Gaspar Militão para si, senhora!
- Mau, mau, Salvador, estás aqui estás a ver a macaca com a Mãe!!! - aviso.
- Macaca és...
- PSSTTT, queres um açoite? É que nem vale a pena dizeres que odeias que o apanhas na mesma!!!
- E se eu não o apanhar???
Sim, as conversas com esta criatura são como jogos de pingue-pongue, mas essa história fica para outra núpcias pois o amigo atreveu-se a voltar a perguntar pelas uvas ao Pai...
Confesso que muitas vezes tenho dificuldade em perceber onde é que o meu filho quer chegar com as conversas dele.
No outro dia estávamos os dois à mesa a jantar e ele pergunta-me:
- Mãe, onde é que eu estava agora?
- Como?
- Onde é que eu estava agora?
Eu estava francamente baralhada com os tempos verbais da questão e o agora….
- Como assim: onde é que estavas quando eras pequenino?
- Não, agora, agora: Onde é que eu estava agora?
- Oh Filho… Tu não estavas em lado nenhum, estás aqui comigo a jantar.
- A-GO-RA, onde é que eu estava agora? – insiste ele soletrando como se eu estivesse com alguma dificuldade em perceber o momento relativo à questão.
- Agora estás aqui comigo. Quando começaste a fazer a pergunta do «Agora», também já estavas aqui comigo a jantar….
- Não é isso que eu quero saber, Mãe!!! – diz ele exasperado, ante uma Mãe cada vez mais baralhada.
- Explica-me por outras palavras o que queres saber, Filho, porque sinceramente e como já percebeste, a Mãe não sabe o que queres saber… - digo-lhe.
- Eu quero saber onde é que estava agora.- responde-me calmamente.
- Agora mesmo, no segundo que passou?
- Isso!!
- Estavas para aqui a fazer-me perguntas que eu não estou a perceber enquanto estamos a jantar… - respondo pronta a colocar um ponto final na conversa.
- Vou perguntar outra vez, OK? – como se eu não tivesse ouvido.
O meu problema de compreensão da questão mantinha-se e ele não estava a saber explicar-se… A conseguir dizer-me, claramente, o que é que queria saber…
- Onde é que eu estava agora?
- Acho que me estavas a tentar enrolar para não jantares e não estás com sorte nenhuma: vamos lá esquecer o estava e o agora e toca a jantar antes que a comida fique fria.
- Aaaah, então era isso!?!?!?!?
- Isso o quê?!?!? – pasmo
- Nada…. – e recomeça a comer.
Confesso que pensei que esta fosse uma daquelas questões filosóficas encurralantes do género: como é que podes perguntar o que é determinada coisa se nunca a viste, não a conheces e não sabes qual a designação da mesma?
Mas não… Fiquei a saber o mesmo e ele, pelos vistos, teve a resposta que queria: que me estava a endrominar…
- Mas eu só 'tou a ver-te jogar no meu tablet!! - diz em tom de súplica.
- Eu sei, mas para eu jogar era preciso que eu conseguisse ver alguma coisa e tens a cabeça mesmo entre mim e o tablet...
Muda de posição e fica com a cabeça dele encostada à minha, a empurrar-me os óculos contra a cara de tal forma que sinto que, a qualquer momento, eu e os óculos passaremos a um único ser...
- Salvador, estás a magoar-me...
- Mas eu só 'tou encostado a ti!!! - refila ele, exasperado.
- Sim, mas a Mãe usa óculos e eles estão a ficar enterrados no meu nariz e na minha cabeça...
- Ai, num posso ver-te???
(estas tiradas à sopinha de massa são de aproveitar enquanto não ficam completamente corrigidas pela terapia da fala....)
- Se o conseguires fazer, sem me tapar a vista e sem me partires os óculos, é perfeito - digo em tom irónico, que ele reconhece imediatamente.
- Ah sim???
- Sim.
- Então não empresto-te mais o meu tablet!!!
- Não faz mal - respondo sem parar de jogar - compro um só para mim e depois não preciso do teu para nada.
- Tu num tens nheiro - retruca ele em tom de gozo.
(Sim, em casa o Pai é que tem dinheiro e compra tudo, o Pai é que cozinha maravilhosamente bem; A Mãe é aquela «mão-de-vaca» que diz sempre que ele tem muitos brinquedos, que cozinha "cenas esquisitas" e que só serve para brincar com ele.
Vá, e ser a melhor amiga e pessoa preferida do mundo... :) )
- Não tenho eu mas tem o Pai. Ele vai comprar um tablet só para mim, não te preocupes.
- Novo? - pergunta o Salvador.
- Sim. Novo e de uma cor para meninas, só meu!
- Hmpf - Grunhe ele...
- Humpf o quê?
- O Pai até pode comprar um tablet a ti, mas o que teu é meu, e se for novo é SÓ MEU!!!
- Socorro!! Socorro!! Estou a ficar sem oxigénio!!! - grita o Salvador, enquanto salta elegantemente, tipo golfinho (tipo moche, entenda-se....) para cima da Avó.
A brincadeira durava há 5 minutos, a Avó já completamente moída e ele «nem aí»....
- Salvador?
- Socorro!! Sem oxigénio!!! Socorro!!! - continua ele a gritar, já a abanar-se com um catálogo do comboio dos Dinossauros.
- SALVADOR!!!!!
- Sim, Mãe?
- Deixa a Avó!
- Mas eu estou sem oxigénio - diz ele a rir às gargalhadas enquanto faz um mergulho de costas.
- Não se brinca com isso!
- Com o quê? - pergunta ele já em alerta.
- Com essa coisa do «estou sem oxigénio».
- ?? - olha para mim como quem pergunta «'Tás parva???»
5 segundos depois:
- Socorro!!! Socorro, estou out'a vez sem oxigénio!!!!
- Ouve bem, Filho, tu por acaso sabes o que é oxigénio??
- Num sei... - diz ele com um ar de «Eh pá, agora é que me apanhaste na curva»....
- Então porque é que estás para aí a gritar e a massacrar a Avó como se te fosse dar um fanico se nem sabes o que é o oxigénio?
... a sério que estava: eu tinha conseguido comer a comida quentinha, jantado do principio ao fim sem me levantar (eu disse que um dia ia conseguir!!!)...
O Salvador estava a comer o segundo sozinho e eu estava a lavar a louça, quando ouço, em tom lacrimoso:
- Oooooooooooohhhhhhhh Mamãããããããããããã...
Virei-me em câmara lenta...
... Tão lenta que ainda vi o sumo de laranja a escorrer, em fio, do copo para cima dele.
Olhei em volta: sumo na mesa, na comida, na cadeira, no chão... nele. No pijama que lhe tinha vestido depois do banho, mesmo antes de nos sentarmos à mesa para jantar.
De imediato, pediu-me muitas desculpas e prometeu, sem eu abrir a boca, que se tinham acabado as brincadeiras às refeições.
- Foi um acidente, Filho, mas percebes agora por que é que a Mãe está sempre a dizer que não se brinca à mesa?
- Sim Mamã, desculpa-me... muito, sim?
- Sim, Filho.
Incrivelmente, consegui manter a calma, apesar do caos que se seguiu:
Despir o Salvador na cozinha;
Levá-lo para o quarto e dar-lhe banho... Outra vez;
Vestir-lhe pijama lavado e despachá-lo para a sala;
Limpar meia cozinha, mesa e cadeira e trocar a toalha de mesa;
Enfiar a roupa toda na máquina e pô-la a lavar;
Acabar de lavar a loiça;
Acabar de fazer a sopa;
Lavar o resto da loiça e limpar o fogão;
Chegar à sala e o jogo dos Angry Birds estar espalhado por todo o lado... Respirar fundo para não chorar;
Apanhar o jogo e avisar o Salvador que tem que ir dormir;
Respirar fundo para não chorar...;
Avisar o Salvador que se não der beijinho ao Pai, fica de castigo e não vai à piscina;
Levá-lo para o quarto;
Lavar-lhe os dentes e pô-lo a fazer chichi;
Deitá-lo e avisá-lo que não é para se levantar;
Fazer a minha cama e vestir o pijama;
Respirar fundo e....
... Sentar-me a escrever este texto enquanto faço tempo para que a máquina acabe de lavar a roupa para a ir estender.
A sério que estava tudo a correr tão bem:
Saí do emprego e apanhei o comboio;
Cheguei à estação, comprei o passe e troquei dinheiro;
Apanhei o Salvador no colégio;
Cheguei a casa, descarreguei as mochilas e fui pagar à empregada;
Voltei para casa e desfiz as mochilas;
Arranjei as mochilas e a roupa do Salvador para amanhã;
Fiz a cama do Salvador;
Apanhei, dobrei e arrumei duas máquinas de roupa;
Despi o miúdo e experimentei-lhe a roupa de praia do colégio (Serve!!!, não vamos ter de comprar nada este ano!!!);
Dei banho ao miúdo;
Arrumei a louça e lavei a loiça do pequeno almoço;
Preparei o sumo de laranja e a sopa do Salvador;
Sentei-me a jantar e a dar jantar ao Salvador;
Fui lavar a loiça do jantar;
Interrompi a lavagem da loiça para levar o Salvador ao wc;
Trouxe o Salvador de volta à cozinha e sentei-o para que acabasse de jantar:
E depois...
... Foi o que puderam ler.
Agora...
Agora são 22h47 e o Salvador acabou de entrar na sala;
Fui deitá-lo e ele pôs-se a chorar;
O Pai foi lá perceber o que se passava e explicar-lhe que é muito tarde e ele tem de dormir...
Entretanto...
... A máquina acabou de lavar: A roupa já está estendida e eu vou-me estender...
A sério que estava a correr bem.
E se continuasse a correr bem, eu agora estaria apenas rota ao invés de estar completamente.... podre.