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O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

Como saber que o seu filho tem sono

Hoje estive a preencher parte dos questionários escolares do ano lectivo 2014/2015.

São, sobretudo, questões que visam dotar o colégio de informação que lhes permita ir ao encontro das expectativas e necessidades dos pais, bem como conhecer melhor a criança e ajudá-la a ter uma fácil adaptação, caso sejam novas ali no estabelecimento de ensino.

 

Ora bem, uma das questões é «Como sabe quando a sua criança está com sono».

 

Apeteceu-me responder, sem pensar duas vezes, «ela desmaia no meu colo», mas achei que pareceria mal.

 

A verdade é que o Salvador luta tanto contra o sono que eu acho que ele às 21h já está pronto para ir para a cama.

Mas se for de sua vontade, fica por aqui a «fritar» até o deixarmos.

 

Eu achava que toda aquela energia era sinal que ele estava a combater o sono.

Hoje sei que não é assim: ele «frita» mesmo.

 

E quando tem sono, começa a bocejar ininterruptamente e a encostar-se.

 

Ou resolve a coisa como esta noite:

- Mãe, quero ir para a cama.

 

Assim, sem mais nem menos. Sem tirar nem pôr.

 

- Estou quase a acabar isto, Salvador.

- Está bem, mas eu quero ir para a cama. Agora.

 

E eu fui deitá-lo.

 

Para quê não lhe fazer a vontade???

 

É tão bom quando eles já falam e dizem o que querem, o que lhes dói...

... O pior é quando não se calam....

 

A escolha certa

Estava no outro dia a pendurar fotos do Salvador quando me lembrei deste episódio ocorrido este ano no Dia da Família.

 

Estávamos na festa do colégio e havia por todo lado molduras com fotos dos alunos, que poderiam a posteriori ser adquiridas pelos pais.

Como eu ainda não conhecia todos os colegas de sala do Salvador – porque, às horas a que o deixo e vou buscar ao colégio, as crianças que lá estão são quase sempre as mesmas – fomos os dois dar uma volta para ele me dizer quem eram.

Até porque no ano 2013/2014 entraram muitas crianças da faixa etária dele.

 

À medida que ele ia identificando os novos colegas, e ia falando um pouco acerca de cada um, volta e meia saía-me um: «Ah, esta menina é mesmo bonita» ou «Que linda, nunca a vi antes!!».

Não sei se incomodado pelos meus comentários às novas amigas – ou se pela falta deles em relação às que já conheço desde o berçário – o Salvador ficou meio estranho.

 

Relembro que já vos contei que ele tem uns dilemas de vida amorosa pouco normais na idade dele.

 

- O que foi, Filho?

- Achas esta menina bonita, Mãe?

- Então não? É bem linda…

- Pronto, Mãe, podes escolher uma tu gostas… - diz ele como se me estivesse a dar um prémio de consolação.

- Escolher uma? Uma quê?

- Uma menina tu gostas, Mãe.

- Filho, eu gosto de todas as tuas amigas, mesmo que não as conheça, como acontece com as meninas que me mostraste nas fotografias.

- Mas Mãe, se tu achas esta mais bonita, podes escolher ela ou outra tu também achas bonita… - insiste.

- Todas as tuas amigas são bonitas, Filho. E não estou a perceber para que é que queres que escolha uma…

- Escolhe uma, Mãe. Uma que gostas. Ficas feliz?

- Se nem sei para que é que estou a escolher…

- Eu deixo-te escolher, Mãe.

- Isso eu já percebi, só não percebi o quê…

- Uma namorada para mim…

 

Deu-se-me um nó no cérebro.

 

- Salvador, podes dar um bocadinho de atenção à Mãe? Ouvires MESMO o que te vou dizer?

- Sim, Mãe.

- A tua namorada és tu que escolhes; tu é que escolhes de quem gostas, não é a Mãe. A Mãe só tem é que gostar da tua namorada, desde que sejas feliz…

- Eu sou feliz, Mãe, muito feliz.

- Isso é que é importante!!! - concluo mais descansada.

- Com o Pai e contigo. Queres ser minha namorada?

 

São umas atrás das outras….

"Raspagens" de verão

O Salvador adora o verão.

Eu também... Não.

 

Para o Salvador o verão é tudo o que há de bom no mundo:

  • Brincadeira todo o dia;
  • Praia com os amigos da escola (este ano a pneumonia levou a melhor e ele não foi...);
  • Praia com os tios e primos / padrinhos;
  • Festas do pijama todas as noites;
  • Deitar tarde;
  • Levantar tardíssimo;
  • Passar 90 % do tempo em que está acordado em modo bacalhau, isto é, demolhado;
  • Férias com os pais;
  • Passeios a sítios novos e divertidos...

Enfim, é tudo.

 

Para mim é só dores de cabeça:

  • Época de usar bloqueador solar em tudo o que é pele exposta;
  • Época de besuntar o Salvador tipo lombo a ir ao forno porque ele ainda é mais branquela que eu;
  • Suar em bica ainda agora saíste do banho;
  • E... época das "raspagens" ao Salvador.

Leram bem: raspagens.

Não, não tenho qualquer tendência sádica em relação à minha cria (ou ao que quer que seja, só para que conste, OK????).

 

Mas durante estes meses - que nos últimos anos se prolongam entre julho e .... inícios de novembro - eu não dou banho ao Salvador, eu raspo-o. Literalmente. E nem sempre com resultados visíveis.

 

- Ai, Mãe!!!!! 'T'as a fazer?

- A lavar-te.

- Assim, com essa força toda?!?!!?

- Sim.

- Mas assim vais tirar a pele a mim....

- Estou a magoar-te?

- Não.

- Então do que é que te estás a queixar?

- De esfregares eu muito!!!

- Temos pena: se te sujasses menos eu tinha menos para lavar!!!

- Tás a esfregar onde dói!!!

- Desculpa, mas esta mancha não sai!!!!

- É UMA NÓDOA NEGRA!!!!!

 

Perceberam? É isto todos os verões.

O surro é tanto: as marcas do pó misturadas com o suor, um cabelo que parece que acabou de chegar da apanha da batata, os pés mais negros que o próprio calçado.... Este miúdo atrai tanto surro no verão como a parte de baixo da minha cama atrai cotão no inverno.

 

Eu esfrego, esfrego, esfrego e ele continua sempre a parecer-me encardido, tipo as t-shirts brancas depois de um dia de praia, cheias de manchas dos protectores solares...

 

É uma confusão de manchas naqueles caniços a que chamamos pernas, que eu nem sei distinguir o que está sujo do que são nódoas negras... ou encardido, como que calejado de andar de joelhos. A sério: quem olhar para o meu filho, parece que o internei num convento onde passa os dias todos a rezar em cima de pedra... 

 

E depois são as birras dos calções, do calçado, das t-shirts preferidas, do «Não quero casaco!!!» e assim que sai à rua «TENHO FRIO!!!»...

 

No inverno, sempre os vestimos tipo cebola, camada sobre camada. E quando, ao final do dia, os "pelamos", a parte final está sempre imaculada.

Agora o verão....

 

Cada vez que o vou buscar à escola, só me apetece fugir.

Parece um carvoeiro preguiçoso, daqueles que até de olhar se nota que se sujou só para fingir que trabalha...

 

 

«Tem a certeza que está a falar do meu filho?»

Fiquei baralhada.

Nada do que a Marina - a educadora do Salvador - estava a dizer, naquela reunião de pais em meados de janeiro deste ano, me fazia sentido.

 

- Tem a certeza que está a falar do meu filho?? - perguntei.

- Sim, Mãe, estou a falar do Salvador.

 

Então não havia dúvidas, porque não há mais nenhum Salvador na sala.

 

Estava completamente aparvalhada!!!

Eu sabia que, fora de nós, pais, o Salvador era o perfeito exemplo da educação e da organização mas assim, era de mais para mim.

A Marina estava a falar de um ser onde eu não conseguia reconhecer um traço sequer da criatura que mora lá em casa.

 

- Come com faca e garfo, e de tudo - tinha começado a Marina.

- Tudo, como assim? - retorqui eu, pedindo que especificasse.

- Mãe, come tudo o que tem no prato e come de tudo: adora canja, e come arroz de polvo, lulas, legumes, incluindo alface...

 

Isto estava MESMO a ultrapassar-me!

 

Em casa o amigo quer sempre«ajuda» para comer, os talheres são sempre perdidos algures na cozinha e as únicas refeições que faz de forma completamente independente são o pequeno almoço e os lanches.

Eu, que tenho paciência com ele em tudo, tenho aqui o meu grande "calcanhar de Aquiles": não aguento as cenas dele às refeições principais e, para que as coisas não acabem mal, entrego-o ao Pai.

E escusado será dizer que já lhe aconteceu lanchar batatas com peixe ou massa com carne de tão teimoso que é ao almoço...

 

Às tantas, o pai da Jô, começa a rir e pergunta-me:

- Surpreendida?!? E então, no que é que está a pensar, diga lá, porque está com uma cara....

Nem eu sabia bem o que é que estava a pensar, por isso saiu-me:

- Olhe, estou a pensar se lhe dê uma tareia valente quando chegar a casa, ou se peça o chip que ele usa aqui na escola para lhe fazer um reset e instalá-lo para uso doméstico...

A risota ainda aumentou mais.

 

E eis que, quando eu achava que nada mais me podia surpreender...

- É geral a aquisição de maior independência nos cuidados diários: Todos lavam os dentes sozinhos, todos se vestem, despem e calçam sozinhos, apenas com umas pequenas ajudas pontuais aqui e ali, em roupa e calçado menos prático e em camisolas.

 

- Geral incluindo o Salvador? Ele é a excepção, certo? - insisto.

- Não Mãe, Salvador incluído.

 

AAAAAAAHHHHHHHHH, isto assim já era demais!!!!

 

Em casa ele faz de tudo uma brincadeira e vesti-lo é uma batalha campal.

Despir-se ainda é como o outro, mas vestir-se? Acaba sempre por andar todo nú pela casa e nem as meias calça....

 

O tema seguinte foi a integração dos novos meninos.

Ficou claro que o Salvador se dava com todos e que todos - meninos novos e os que já estavam - o adoram.

 

- Partilhar, Marina??? Partilhar?

- Hã... Siiimm, Mãe.... - a Marina parecia tão confusa com a minha pergunta quanto eu com a afirmação dela.

- Ele partilha?

- Sim.

- Partilha o quê, se eu não o deixo trazer brinquedos de casa porque ele diz sempre que são só dele e que não os vai emprestar a ninguém?

- Partilha as coisas com que brinca.

- Posso começar a deixá-lo trazer coisas de casa?

- Sim, porque não?, todos os meninos o fazem.

- Mas o Salvador não partilha o que é dele...

- Pode ser que assim comece a partilhar, Mãe.

 

No outro dia, a Cristina, mãe do Ruben, um dos melhores amiguinhos do Salvador, acabou por me confessar:

- Nunca mais me vou esquecer da tua cara naquela reunião de pais...

 

Acredito: Eu estava completamente atarantada. 

Perplexa.

Confusa.

 

Depois disto tudo, tentei que fizesse em casa o que faz na escola.

Dar-lhe espaço, para além das pressas diárias para nos despacharmos e não nos atrasarmos a saír de casa ou não ficar muito tarde para ele ir dormir.

 

O resultado foi quase nulo, passados estes 6 meses.

Tirando que agora leva muitas vezes brinquedos para a escola e sim, os amiguinhos confirmam que ele os partilha.

 

Mas, depois penso: ele não vai querer ser bebé para todo o sempre, e a verdade é que eu não o trato como um bebé.

Ele tornar-se-á independente nestas tarefas, em ambiente doméstico, quando assim o entender. 

É certo que nada fazemos para incentivar os comportamentos abebezados, mas reconhecemos que fazemos muitas coisas que não devíamos, devido às pressão do tempo no nosso dia-a-dia.

 

Afinal de contas, quem é que aguenta estar 3 horas com ele à mesa, ao final de um extenuante dia de trabalho, para que coma uma simples peça de fruta?!?!

É de loucos!!!!

 

Mas ouvir aquela descrição também: Senti-me a mãe de um Alien... O que mora cá em casa, claro, porque o que coexiste no corpo do Salvador na escola deve ser bem mais fácil de lidar...

 

Pistas difíceis

Há uns tempos comprámos ao Salvador um jogo que se chama Who am I?, uma versão do Jumbo do jogo Eu Sou?.

É aquele jogo em que cada jogador tem uma bandolete plástica na cabeça, na qual se coloca uma carta e, por meio de perguntas, tem de adivinhar o que está na carta: um animal, uma peça de vestuário, uma fruta, etc.. 

 

A versão do Jumbo, além de ser muito, mas muito mais barata que a original (custa cerca de 9 euros e não perto de 30...), ainda possibilita a aprendizagem da palavra em mais 10 línguas além do português, para aqueles cujos pais sabem ler alfabeto cirílico ou caracteres chineses (ou serão japoneses??? Whatever...).

 

Este sábado, enquanto o Pai assistia ao jogo Brasil - Chile, eu e o Salvador fomos jogar ao Who am I?.

 

Depois de ter trocado de lugar com ele e colocá-lo de costas para o Pai, - porque o Pai vai-lhe dando pistas, nas minhas costas, acerca da carta que ele tem na cabeça e acabam os dois numa batotice pegada e a rir que nem uns perdidos - o Salvador deve ter achado, pela minha cara, que eu devia estar em dia não e resolveu dar-me umas pistas para me ajudar a adivinhar as minhas cartas.

 

As pistas que ele me dava eram bastante difíceis, senão, adivinhem (e escrevam as respostas na área de comentários) que imagens é que as mesmas tinham:

  1. Parece uma maçã mas é um legume
  2. É redonda e para os jogadores de futebol jogarem com ela
  3. É uma bola com uma fita para um lado, uma fita para o outro e serve para ver as horas
  4. É para vestir na cabeça
  5. És um animal que está na água, tens um bico e fazes quá-quá

Comecei a sentir que mais valia não ter trocado de lugar com ele porque, com pistas destas, a batoteira era eu...

Estava tudo a correr tão bem...

... a sério que estava: eu tinha conseguido comer a comida quentinha, jantado do principio ao fim sem me levantar (eu disse que um dia ia conseguir!!!)...

 

O Salvador estava a comer o segundo sozinho e eu estava a lavar a louça, quando ouço, em tom lacrimoso:

 

- Oooooooooooohhhhhhhh Mamãããããããããããã...

 

Virei-me em câmara lenta...

... Tão lenta que ainda vi o sumo de laranja a escorrer, em fio, do copo para cima dele.

 

Olhei em volta: sumo na mesa, na comida, na cadeira, no chão... nele. No pijama que lhe tinha vestido depois do banho, mesmo antes de nos sentarmos à mesa para jantar.

 

De imediato, pediu-me muitas desculpas e prometeu, sem eu abrir a boca, que se tinham acabado as brincadeiras às refeições.

 

- Foi um acidente, Filho, mas percebes agora por que é que a Mãe está sempre a dizer que não se brinca à mesa?

- Sim Mamã, desculpa-me... muito, sim?

- Sim, Filho.

 

Incrivelmente, consegui manter a calma, apesar do caos que se seguiu:

  • Despir o Salvador na cozinha;
  • Levá-lo para o quarto e dar-lhe banho... Outra vez;
  • Vestir-lhe pijama lavado e despachá-lo para a sala;
  • Limpar meia cozinha, mesa e cadeira e trocar a toalha de mesa;
  • Enfiar a roupa toda na máquina e pô-la a lavar;
  • Acabar de lavar a loiça;
  • Acabar de fazer a sopa;
  • Lavar o resto da loiça e limpar o fogão;
  • Chegar à sala e o jogo dos Angry Birds estar espalhado por todo o lado... Respirar fundo para não chorar;
  • Apanhar o jogo e avisar o Salvador que tem que ir dormir;
  • Respirar fundo para não chorar...;
  • Avisar o Salvador que se não der beijinho ao Pai, fica de castigo e não vai à piscina;
  • Levá-lo para o quarto;
  • Lavar-lhe os dentes e pô-lo a fazer chichi;
  • Deitá-lo e avisá-lo que não é para se levantar;
  • Fazer a minha cama e vestir o pijama;
  • Respirar fundo e....

... Sentar-me a escrever este texto enquanto faço tempo para que a máquina acabe de lavar a roupa para a ir estender.

 

A sério que estava tudo a correr tão bem:

  • Saí do emprego e apanhei o comboio;
  • Cheguei à estação, comprei  o passe e troquei dinheiro;
  • Apanhei o Salvador no colégio;
  • Cheguei a casa, descarreguei as mochilas e fui pagar à empregada;
  • Voltei para casa e desfiz as mochilas;
  • Arranjei as mochilas e a roupa do Salvador para amanhã;
  • Fiz a cama do Salvador;
  • Apanhei, dobrei e arrumei duas máquinas de roupa;
  • Despi o miúdo e experimentei-lhe a roupa de praia do colégio (Serve!!!, não vamos ter de comprar nada este ano!!!);
  • Dei banho ao miúdo;
  • Arrumei a louça e lavei a loiça do pequeno almoço;
  • Preparei o sumo de laranja e a sopa do Salvador;
  • Sentei-me a jantar e a dar jantar ao Salvador;
  • Fui lavar a loiça do jantar;
  • Interrompi a lavagem da loiça para levar o Salvador ao wc;
  • Trouxe o Salvador de volta à cozinha e sentei-o para que acabasse de jantar:
  • E depois...

... Foi o que puderam ler.

 

Agora... 

  • Agora são 22h47 e o Salvador acabou de entrar na sala;
  • Fui deitá-lo e ele pôs-se a chorar;
  • O Pai foi lá perceber o que se passava e explicar-lhe que é muito tarde e ele tem de dormir...

Entretanto...

... A máquina acabou de lavar: A roupa já está estendida e eu vou-me estender...

 

A sério que estava a correr bem.

E se continuasse a correr bem, eu agora estaria apenas rota ao invés de estar completamente.... podre.

Um dia...

... eu vou conseguir jantar sem uma cena destas:

 

- Mãe, hoje na escola doeu-me muito a barriga.

- E foste à casa de banho?

- Não, não tive vontade.

- E porque é que estás a falar nisso agora: Estamos à mesa, a jantar, e quando se está à mesa não se fala de casa de banho, está bem?

- Sim, Mãe.

- Muito bem.

- Mas Mãe...

- Sim, Filho?

- Mas dói-me a barriga.

- Salvador, isso não te desculpa: tens que jantar. Depois vamos os dois resolver isso.

- Como?

- Janta que depois vamos à casinha.

- Mãe?

- Sim?

- Mas dói-me o rabo...

- Dói-te o rabo?

- Sim.

- Oh, Filho....

- TENHO CÓCÓ PA SAIR!!!!

- Oh Meu Deus, vamos lá à casa de banho!!

 

Pelo caminho:

- Mãe, e vais dar-me a mão?

- Salvador, vais à sanita, não vais ter um filho!!! - digo exasperada!

- Quê??

- Nada, dou-te a mão até à casa de banho, depois ficas na sanita.

 

Sanita com ele.

Estava eu já prestes a desmaiar, quando ele se sai com esta:

- Mãe, isto vai cheirar mal.

- Ainda pior?

- Porquê?, já cheira mal?

- Esquece. 

- Mãe, isto vai cheirar mal. Podes ir pá sala qu'eu quando tiver despachado chama-te.

- Então vou para a cozinha.

- Fazer?

- Jantar, que era o que estávamos a fazer.

- Depois eu chamo-te.

- Está bem.

 

Dez segundos depois, estava eu a tirar o garfo da boca após a primeira garfada e ouve-se:

- MÃÃÃÃÃÃEEEEEE!!

- Sim, Filho??

- JÁ ESTÁ!!!

 

Já nem consegui acabar de jantar....

 

Um dia eu vou conseguir jantar, sentada do principio ao fim, comer a refeição toda ainda quente.

Um dia eu vou conseguir fazê-lo sem me levantar quinhentas vezes, sendo que uma delas é sempre para fazer de dama de companhia na casa de banho... 

 

Um dia eu vou conseguir... Até lá, vou aproveitando a «dieta»! ;)

À terceira foi de vez!

Estranhei ele não mencionar nada em todo o caminho para casa e, por isso, mal chegámos, perguntei:

 

- E então Salvador, usaste a escova de dentes nova do Faísca?

- Não.

- Como não, hoje não lavaste os dentes na escola?

- Não.

- Não? Mas não porquê?

- Porque hoje não é dia de lavar os dentes.

- Todos os dias são dias de lavar os dentes, seja aqui seja na escola.

- Não é não!!! Na escola só se lava os dentes um dia.

- Ah é!?!?!? E quando é esse dia???

- Não é hoje, é.... a sexta-feira!

- Não acredito que hoje não lavaste os dentes!!

- Não, é só à sexta!!

- Nem lavaste com a pasta nova que a Mãe mandou??

- Qual pasta?

- A das riscas!!

- Mostra-me onde está!! - e ia procurá-la na mochila, quando lhe barrei o caminho.

- Está na escola; com a escova do Faísca.

 

Baixei-me e olhei-o nos olhos:

- Diz a verdade à Mãe: lavaste os dentes na escola ou não?

- Não.

- Salvador!?!?!? 

- NÃO LAVEI!!!

- Muito bem, amanhã pergunto à Marina.

 

Deixei cair o assunto.

Quando lhe fui dar banho voltei à carga:

- Então e que tal foi lavar os dentes hoje na escola?

- Já disse-te eu hoje não lavei os dentes.

- Ah, pois foi. Esqueci-me. E porque é que não lavaste os dentes, relembra-me lá.

- Porque hoje é sexta-feira e nas sextas-feiras não se lavam os dentes...

- Não, hoje é segunda-feira, e como já te disse, todos os dias são dias de lavar os dentes.

- Não é assim na escola.

- Amanhã pergunto à Marina, Salvador!

- Mas não lavei!!!

- Então e o que aconteceu à escova do Faísca e à pasta nova?

- Num sei!!!

 

A conversa estava a azedar.

Mas, «filho de peixe, peixinho é»: para teimoso, teimosa e meia!!

Deixei cair esta segunda tentativa, mas não me fiquei por aqui...

 

Quando lhe estava a lavar os dentes antes de o deitar, fiz a derradeira tentativa:

- Amanhã vou perguntar o que aconteceu à escova e pasta nova que te mandei para a escola...

- Desapareceram, Mãe?

- Não sei, diz-me tu.

- Eu? Digo o quê?

- Lavaste os dentes na escola?

- Não.

- Vou perguntar só mais uma vez e não me mintas que é muito feio: Hoje lavaste os dentes na escola?

- Eu não lavei com a escova nova; lavei com a vela.

- Com uma vela?

- Com a vaca.

- Qual vaca??

- Como é que se diz que não é nova?

- Com a escova velha?!?!?

- Isso!!!

 

 

Chiça, estava difícil... 

Ao jantar

- Porque é que vocês podem comer os pãos todos e eu não?

- Os pães - responde o Pai - Os pães.

- Os pães?

- Sim: 1 pão; dois pães - explica o Pai.

- É como o cão, Filho: 1 cão, 2.... Diz tu - incentivo-o eu.

- Dois cães!

- Isso! Agora que já percebeste, diz tu um exemplo sozinho - peço-lhe eu.

- Está bem: 1 papagaio, 2.... papagães!!!

 

E desatámo-nos os 3 a rir!!!

Ler aos 4 anos

O Salvador gostava muito de saber ler. E para ele, ler é em voz alta.

 

Este verão estávamos na praia quando ele me perguntou:

- O que é que o Tio António está a fazer?

- Está a ler uma revista.

- Não está nada!!!

- Está sim, faz pouco barulho e deixa o Tio António a ler descansado.

- Mas eu não estou a ouvir nada; ele não está a ler.

- Está sim. Está a ler para ele e, quando fazemos assim, não lemos em voz alta.

- Ah... É ler de boca fechada?

- É mais ou menos isso.

 

 

Esta tarde:

- Mãe, preciso do papel do Furby!!!

- Mas para quê?

- Para ver lá uma coisa!!!

- Para ver o quê?

- Uma coisa!!! Preciso mesmo do papel!!! Anda buscar!

- Eu vou, mas não percebo para que é que queres o papel: tu não sabes ler!!!

- Leio de boca fechada!!!!