Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

Transformar um ego monstruoso em algo positivo

O Salvador sempre foi vaidoso. Muito vaidoso

Desde cedo que se tem em grande conta.

 

Os dentes do Salvador nasceram tarde. Muito tarde.

O primeiro veio aos 16 meses.

 

O Salvador só usava chucha para dormir. Mas na altura em que era suposto tirar-lha começou a ansiar sofregamente por ela e a querer andar a chuchar sempre e em todo o lado.

 

Levei-o à consulta de rotina dos 2 anos e meio e expliquei ao pediatra que a chucha se estava a tornar um problema. Pedi-lhe se ele não podia conversar com o Salvador, aproveitando ele ser um vaidosão para lhe falar dos malefícios da chupeta nos dentes.

 

A conversa foi mais ou menos assim:

- Então, Salvador, ouvi dizer que é o menino mais bonito da sua sala.

- É. Sou.

- Mas olha que vai deixar de ser...

- Porquê?

- Porque os meninos que usam chucha ficam com os dentes tortos; os dentes tortos são os dentes mais feios que existem e depois vai passar a ser um menino feio.

- Então... Vou ficar com os dentes feios?

- Os dentes mais feios de todos os meninos da sua sala.

 

A coisa ficou por aqui.

 

Saí, paguei e fomos para o carro.

Assim que se sentou, pediu a chucha e eu dei-lha.

 

- Mã?

- Sim Filho?

- Eu vai ficar feio por causa da chucha?

- Vais. Vais deixar de ser o menino mais bonito da sala e ter uns dentes muito, muito feios.

- Mã?

- Sim?

- Toma chucha e deita ela fora.

- Tens a certeza?

- Sim.

 

Peguei na chucha e, enquanto com uma mão abri a janela do carro, com a outra escondia-a no bolso, não fosse correr mal na hora de dormir.

Fingi que a atirava fora e disse-lhe:

- Já está, Salvador. Acabou-se a chucha.

- E eu vou ser bonito para sempre... - respondeu para o ar.

 

Chegámos a casa e deu a notícia ao Pai: já não usava chucha e ia ser bonito para sempre.

 

Nessa noite não a pediu.

Nem no dia seguinte na escola, nem na noite seguinte.

 

Duas noites depois acordou de madrugada e chamou-me:

- Mã, a chucha. Eu perdeu a chucha.... - explica-me ensonado.

- Não, Filho, não te lembras que já não usas chucha? - pergunto-lhe baixinho.

- Ah, pois é, pois é... - replica, acrescentando quase imperceptivelmente - E vou ser bonito para sempre...

 

... O que, aos meus olhos, será sempre verdade.

 

Silogismo demonstrativo aos 2 anos e 7 meses

Sim, ele é precoce, mas daí a filosofar e apresentar-me um silogismo demonstrativo, confrontando-me com questões existenciais com apenas 2 anos e sete meses é demais para qualquer um...

 

Estávamos em Novembro de 2012 e ele estava a aprender as estações do ano na escola.

O Pai prometeu-lhe que, apesar de não haver neve onde moramos - por norma... - um dia o levaríamos a ver a neve.

 

Fui deitá-lo e ele estava extremamente cansado.

 

- Mãe, quando temos férias?

- No Inverno, Filho, no Natal.

- Não é no Natal que há neve?

- É.

- E não podemos ficar já de férias, Mãe?

- Não, Filho, não podemos.

- Porquê, Mãe?? Eu queria nós ficássemos juntos em casa.

- Pois, Salvador, mas a Mãe e o Pai não podem ficar em casa: Têm de trabalhar para ganhar tostão.

- E depois temos férias só no Inverno...

- É isso mesmo.

- E no Inverno há neve...

- Sim.

- Então, nas férias podem levar eu a ver a neve?

- Não pode ser, Filho.

- Mas porquê? - pergunta em tom desesperado, como quem está a pensar «esta conversa não está nada a correr bem para o meu lado»...

- Porque a Mãe e o Pai não têm tostão para te levar a fazer férias na neve.

- Então porque é que trabalham?!?!?!?!?!

Para onde vão os dodóis?

- Mão, o qué isso tens na mão? - pergunta ele, enquanto afaga a minha cicatriz.

- Foi um dodói que a Mãe fez, mas já passou.

- Foi o quê?

- Quando eras pequenino, e ainda mal sabias andar, vieste ter com a Mãe quando estava a passar a ferro. Foste contra a tábua e o ferro abanou e então, para ele não cair em cima de ti, a Mãe pôs a mão e queimou-se - concluo.

- Isso foi quando fomos ao 'spital e um bicho picou a ti no pé e ele ficou muito grande?

- Não, Filho, dessa vez quem se queimou foi o Pai e nós ficámos na rua à espera dele.

 

(Gostava de saber como é que ele se consegue lembrar com tanto pormenor de uma coisa que aconteceu ainda ele nem sequer tinha um ano e meio.... Estas cabecinhas são mistérios insondáveis!)

 

- Eu já queimou-se também?

- Não Filho, e ainda bem porque dói muuuuuuiiiitoo!!! Por isso é que a Mãe e o Pai te estão sempre a avisar que não se mexe em coisas quentes.

- E 'pois?

- E depois o quê?

- O que aconteceu na tua mão?!?!?

- Fez uma bolha muito grande, a bolha rebentou, depois fez um buraco e agora está assim, só um bocadito escuro.

- Ah... E o buraco?

- Desapareceu.

- Era um dodói?

- Era, mas agora já está bom.

- E foi p'a onde?

- Como?

- P'a onde foi o dodói?

- Desapareceu.

- P'a onde?

- Para lado nenhum, Filho. Ficou bom e pronto.

- E 'pois de bom foi p'a onde? - insiste.

- Olha para a tua mão - peço.

- Qué foi, ' que'la tem?

- Diz-me tu.

- Tem nada.

- E quando tu caíste de bicicleta o que ela tinha?

- Um dodói.

- E agora?

- Tu p'seste uma pomada e ela ficou boa.

- Isso mesmo!!

- 'Tou a peceber. Mas quem levou o dodói?

- Ninguém, Salvador, são as coisas boas do sangue que trabalharam muito depressa para o dodói ficar bom.

- E levaram ele p'a onde?

- Quem?

- O dodói. P'a onde foi o dodói?

- Desapareceu, como magia das fadas boas do sangue.

- Oh, que bom, Mãe!!!

- É, não é? - pergunto, aliviada pela saga ter acabado.

- Mãe?

- Sim, Filho?

- E para onde as fadas levam os dodóis?

- Eles desaparecem dentro de nós.

- Temos um sitio p'a eles irem?

- Não - respondo peremptoriamente antes que me pergunte onde é esse lugar.

- E eu posso ver as fadas boas do sangue?

- Não.

- Porquê?

- Porque elas são um segredo que não se vê.

- Então como sabes que elas 'tão lá?

- Mas nós não viemos para aqui para eu te deitar?

- Sim, mas eu quero tanto saber para onde vão os dodóis....

- Muito bem, amanhã vemos isso.

- P'ometes?

- Sim, Filho.

 

Felizmente, no outro, dia não se lembrou, porque estas conversas são autênticas pescadinhas de rabo na boca...

"Canta os home's de p'eto!!" a.k.a. ... Moonspell

Era a exigência da época, aos gritos para mim: "Canta os home's de p'eto!!"... que durou mais ou menos até... aos dias de hoje!

 

Sim, o Salvador é fã dos Moonspell desde os 2 anos e meio e andei três meses a cantar o "All together now" do anúncio da Optimus do Natal de 2012. 

Mas só podia cantar como os home's de p'eto!!! E fazer os gestos!

«Pom, Pom, Pom", com voz grossa, cara de má e gestos - Eram assim as nossas viagens de carro.

 

Depois o anúncio deixou de passar e ele continuava a pedir que cantasse o «Pom, Pom, Pom» como os home's de p'eto!!! 

 

A Optimus manteve a música e ele procurava sempre os home's de p'eto em todos os anúncios.

Por fim, lá desistiu.

 

Até há 3 semanas.

 

Estava a ler o Lado Lunar do Fernando Ribeiro quando ele vem ter comigo.

- Tás a fazer?

- A ler uma coisa.

- Qual coisa?

- Uma coisa.

- Quem esqueveu?

- O senhor que canta nos homens de preto.

- MOSTA À MIM!!!!

- Está aqui.

(E mostrei-lhe a fotografia do Fernando Ribeiro)

 

- É ELE, MÃE!!!! É ELE!!!

- Pois é!

- Há tanto tempo eu não houve os home's de preto.... Põe pa mim!!!

- Deixa só a Mãe acabar de ler.

- Porque é que tás a ler ele? Ele é teu amigo?

- Não, Filho, mas a Mãe gosta muito do que ele escreve.

- Eu gosta muito como ele canta!!! Eu quero ser um rockista como ele!

(diz ele num estado de excitação que até parece que lhe está a dar uma coisinha....)

 

- Sabes que ele é casado com a Sónia do Factor X?

- A SÉRIO????

(Pela cara dele até parece que acabei de lhe dizer que lhe vou oferecer um elefante - sim, ele ia delirar, mas não temos espaço...)

 

- Sim.

- Eu gosta tanto da Sónia, Mãe.

(Diz com voz melosa... O que vale é que ele ainda só vai fazer 4 anos e não constitui qualquer tipo de ameaça para o Fernando)

 

- Eu sei, Filho.

- E ela cantava aquela música tu ouvias quando eu era bebé.

- Pois é.

(Sou fã dos The Gift desde sempre e a música deles acalmava-me nos primeiros tempos de recém-maternidade...)

 

- Achas que eles podem vir cá a casa cantar pa mim?

- Não, Filho as coisas não são assim.

- O Pai fazia almoço pa eles e depois eles cantavam pa mim!!!

(Para o Salvador não há nada que não possa acontecer desde que precedida por um almoço maravilhoso do Pai)

 

- Ouve, a Mãe vai pôr os Moonspell como tu gostas, está bem?

- Quem?

- Os Moonspell.

- Moonspell???

(Isto dito à sopinha de massa tens mais piada, acreditem....)

 

- Sim, é como se chama a banda de música que tu dizes que são os homens de preto.

- Mas põe com a menina, aquele muito grande só com eles!!!

 

E ouvimos 5 vezes seguidas o anúncio de Natal da Optimus de 2012....

E 7 vezes os Duetos Improváveis com a Carminho e os Moonspell.

 

- Mãe, agora cantamos nós!

- Está bem.

- Tu fazes a menina e eu sou o Fenando dos Moonspell

(Nunca mais foram os home's de p'eto... Com muita pena minha, confesso)

 

- Mas a Mãe é que tem uma voz como a do Fernando!!!

- Pois tens, mas eu não faço de menina e quero fazer os «Pom, Pom, Pom»!! Eu é que sou o rockista e toco guitarra de picos!!!

(Nada de mais, hein? Passou uns meses depois deste Natal em que, quando fosse grande, queria ser uma rena do Pai Natal todo o ano...)

 

E lá foi o concerto caseiro. Com guitarra, gestos e tudo!!

E mais não sei quantas viagens de carro comigo a fazer de Carminho.

 

Até que um dia....

- Mãe, podes fazer de Fenando.

- Então e tu fazes de Carminho?

- NÃO!!! - diz ele como se isso fosse, desde sempre, uma daquelas coisas impossíveis tipo dormir na Lua - Eu faz os «Pom, Pom, Pom»!!!

- E porque é que eu já posso ser o Fernando?

- Po'que não fazes nada bem da menina!!!!

 

É caso para dizer.... «POM, POM, POM»!!!  

 

A campainha tocou?: A pizza chegou!!!

Isto de morar longe da família e da maioria dos amigos começou a revelar consequências nefastas no Salvador tinha ele uns 2 anos e meio.

 

Cada vez que tocavam à campainha a reação dele, independentemente da hora, era sempre a mesma: saía a correr para a porta de casa enquanto gritava «É o home da pizza!!!! HEI!!!!»

 

Hoje em dia já pergunta: «Quem é, Mãe: o senhor da pizza, o da MEO ou o da ZON?»

 

Das duas uma: ou arranjamos uma vida social ou desligamos a campaínha e acabaram-se as pizzas ao domicílio...