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O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

O meu filho dava um livro...

... e vários filmes!!! Num elenco de luxo, temos como protagonista Salvador, nascido a 28.04.2010, em cenários da vida quotidiana. Registado no nosso dia-a-dia, por isso aconselha-se alguma prudência quando imaginar as cenas descritas: são bem reais..

«Gorda a minha alma...»

À Mãe do Mano: Obrigada por me teres lembrado deste episódio.

Aconteceu algures entre final de Agosto e final de Outubro de 2013 e, do que a esta distância me consigo lembrar, foi mais ou menos assim:

 

- Tudo pronto para dormir?

- Sim, Mãe. 

- Muito bem, então vamos pedir ao Anjnho da Guarda para dormirmos bem: «Anjinho da...»...

- ... «Guarda / minha cupanhia / Gorda a minha alma / de noite e de dia / Ámeno».

- A alma não é gorda, Filho. É «Guarda a minha alma»...

- Não é gorda?

- Não. Outra vez: «Anjinho...»...

- ... «da guarda / minha cumpanhia /  guarda a alma / noite e dia / Ámeno»!

- «A minha alma», Filho, «a minha alma».

- A tua?

- Não, a tua. Estamos a pedir ao Anjinho da Guarda para guardar a tua alma.

- E a tua?

- E a minha também.

- Mãe... O que é uma alma?

-...

- Mãe?

- Uma alma é o que tu és, Filho.

- Sou nada, eu sou um menino.

- Pois és. Vamos lá outra vez para irmos dormir. A Mãe ajuda: «Anjinho da Guarda...» 

- Posso vê-la?

- Quem?

- A alma, Mãe, posso ver a alma?

- Não, Filho. Não conseguimos ver a nossa alma.

- Porquê? Onde é que ela está?

- Está dentro de nós.

- E eu posso vê-la?

- Não, Filho, não se consegue ver.

- E ela está onde, dentro de nós?

- Filho, não se vê... (já a desesperar)

- Mas está onde: está ao pé dos músculos?

- Não, Filho.

- Então ela está onde?

- Está... No teu corpo todo.

- Como o sangue?

- Sim, mais ou menos isso.

- Então,... Posso vê-la?

- Não se consegue ver, Filho.

- Ela está escondida?

- É mais ou menos isso...

- Não mostraste-me ela nos livros do Corpo Humano da Tia Nana e do Tio António!!! (indignado)

- Não estava lá. Lá só estava o corpo.

- E eu tenho corpo?

- Claro que sim!

- Com ossos?

- Sim.

- E tenho um coração?

- Sim.

- E sangue?

- Sim

- E alma?

- Também.

- Eu tenho uma alma??? (em tom de incredulidade)

- Claro, então não pedimos todos os dias ao Anjinho da Guarda para a guardar!?!?!?!?

- Ah... Pois é, pois é...

- E então....

- E quando eu vou ver ela?

 

(mais valia ter deixado que a Alma fosse gorda....)

 

Os filhos têm remédio para tudo

Estou a chocar uma gripe «daquelas», com direito a dores de ouvidos e tudo o mais. A fim de inverter a tendência, achei melhor não sair de casa este fim de semana. 

 

Com uma dor de cabeça brutal desde ontem, resolvi tentar fazer um pouco de «mappling» esta tarde. Eis quando ouço a seguinte conversa entre o Salvador e o Pai:

 

- Pai, podemos ir passear?

- Não, Filho.

- Vá lá, Pai.... (em tom de súplica)

- Filho, não vês que a Mãe está doentinha?

- Sim, mas vamos tu e eu passear e, quando voltarmos, damos um beijinho à Mãe.

- E a Mãe, coitadinha, deixamo-la aqui sozinha?

- Sim.

- Mas a Mãe está doente, não se pode deixar a Mãe aqui sozinha.

- O que é que a mãe tem?

- Já te disse, está doentinha.

- Sim, mas o que é que a Mãe tem?

- Tem um dói-dói.

- Sim, mas tem um dói-dói onde? O que é a Mãe tem?

- Dói-lhe a barriga...

- Então acorda ela, diz a ela para ir fazer cócó para podermos ir passear!!

 

Se fosse assim tão simples...

Dar a volta ao texto...

- Mãe, hoje podemos contar uma história a caminho da escola?

- Sim, Filho.

- Começo eu.

- Como quiseres.

- A história vai chamar-se «a águia bebé que não sabia o caminho para casa».

- Muito bem.

- Então é assim: Era uma vez uma águia bebé pobre que não sabia o caminho para casa.

 

Como íamos no carro e as estradas são tão boas, mal o consegui ouvir pelo que, para ter a certeza que ia acompanhar a saga desde o início, perguntei a fim de confirmar:

 

- A águia era pobre?

- Sim, Mãe. Mais ou menos... (silêncio)

 

Olhei pelo retrovisor e ele estava com um ar estranho. O silêncio prolongava-se pelo que decidi verificar que ele me tinha ouvido:

 

- Filho!?!?!

- Sim, Mãe?

- A águia era pobre, certo?

 

Mais silêncio.

Estava com aquela cara n.º 34, aquela que faz quando está perante um dilema.

 

Por muito que desse a volta à cabeça, não percebia qual era o problema com a minha pergunta (eram 7h40 da manhã, dêem-me o devido desconto...).

 

Pouco depois cheguei lá: ele pensava que eu o estava a questionar quanto à aplicação do estado de ser pobre a um animal, que, como ele bem sabe,  - porque sabe mais sobre animais que qualquer um de nós lá de casa - não têm dinheiro e, por enquanto, ele apenas reconhece a pobreza como consequência da falta de dinheiro (e ainda bem, porque quando conhecer a pobreza de espírito, enfim...)

 

Esperei mais um pouco e voltei à carga:

 

- Filho, a águia era ou não era pobre?

- Mãe, eu sei que disse que sim mas agora é não.

- Então?!!?!?

- Vou começar outra vez: Era uma vez uma águia bebé, coitadita, que não sabia o caminho para casa...

 

Até as lágrimas me vieram aos olhos com o esforço para não me rir!!!!

Confesso que metade da história ficou por ouvir: A isto se chama dar a volta ao texto, quando o conceito não se aplica ao contexto!!!

 

Claro que podia ter-lhe explicado que bastaria tão simplesmente dizer «era uma vez uma pobre águia bebé...», tal como ele ouve noutras histórias e agora tentava replicar na sua...

 

... Mas isso estragaria a surpresa que ele vai ter quando descobrir a quantidade de pessoas, como as que nos governam, por exemplo, que tendem a não compreender conceitos e contextos em que os aplicam, tipo confundir a estrada da Beira - que aconselho a tomarem como ponto de passagem para nos deixarem em paz - com a beira da estrada, aquele local onde, se continuarem assim, nos vão deixar a todos de mão estendida....

A pedido de várias famílias

Convenceram-me: tenho mesmo que registar os diálogos hilariantes - ou nem por isso... - com o Salvador.

Isso, e porque esta torna-se uma maneira mais fácil de partilhar os «filmes» do dia-a-dia com um público fiel que sempre me pergunta pelos episódios do dia anterior e dessa manhã.

Vou criar Tags de acordo com a idade dele, para que possa registar episódios que já estiveram «no ar» há uns tempos mas que merecem ser registados para a posteridade... tanto mais não seja para os «fãs» que apenas chegaram agora ao universo Salvadoriano que é a minha vida.

 

Depois de ter resistido durante tanto tempo... Vamos a isso!

 

Sejam bem-vindos :)